quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Esse texto é do prof. Ms. SÉRGIO PEREIRA DOS SANTOS, doutorando em Educação - PPGE-UFES, e membro do NEAB UFES.

Foi escrito rapidamente a propósito da charge abaixo:

  

Em primeiro plano, analiso a charge em duas dimensões. A primeira sobre a questão que envolve o mérito; e a segunda que perpassa pela questão de uma suposta dificuldade da identificação de quem é negro no Brasil.

No que se refere a primeira questão levantada, a charge incita a pensar que o cotista racial não passará pelo crivo do vestibular ou pelos processos meritórios que é uma das marcas do Liberalismo e da burguesia que camuflam os verdadeiros princípios dos direitos humanos que entende a educação como direito social inalienável, passando a ideia de que o mérito é o único critério medidor de acesso a universidades públicas. Nesse sentido, mesmo considerando que ideologicamente o mérito é posto como uma pseudo exclusividade ou hegemonia na definição da entrada do aluno na universidade, o processo propositivo e de implementação de cotas raciais no Brasil não exclui ou abandona a ideia de mérito, já que o cotista passa, mesmo entre os desiguais, por um processo, que de alguma maneira, avalia os aspectos cognitivos e científicos como os outros candidatos não cotistas. Há muitos cotistas, como exemplo a UFES, que não entram na universidade quando os mesmos não atingem o mínimo de exigência que cada universidade adota. Também, é importante saber que quando o cotista se matricula em seu curso depois de lograr sua provação, a cota por si só inexiste ou não tem potência nenhuma na definição da ria conclusão do curso pelo aluno cotista, já que ele junto com o não-cotista deve demonstrar esforço, luta e muita dedicação pra conseguir a conclusão do curso, considerando evidentemente as agruras e as dificuldades que todos os alunos independentemente de ser cotistas passam durante o curso superior. Portanto, se o cotista não demonstrar garra, persistência, ele não terá a conclusão oficial de seu curso. Sendo assim, a ideia de que o cotista já entra na universidade sem nenhum esforço exigido socialmente se constitui num dos engodos que protege ou esconde as verdadeiras formas de desigualdades que protege interesses, privilégios e condições materiais das oligarquias brancas brasileira.

A outra questão que a charge envolve, é no que se refere a suposta dificuldade da identificação de quem é negro no Brasil. A escravidão no Brasil definiu muito bem quem seria o escravo, assim como no dia-a-dia nós percebemos muito bem e nitidamente nas hierarquias sociais quem é negro ou onde este está na maioria das ocupações sociais de baixa representatividade e status social ou majoritariamente quem está, por exemplo, nas vagas dos desempregados, nos presídios, nas listas dos assassinatos, dos indigentes, dos pobres etc. Ou ao contrário, onde ele não está ou está em números pífios, como nas universidades, altos cargos de empresas, na política, no judiciários, nos papéis de grande destaque na mídia, na diplomacia, na produção científica e tecnológica, considerando um paradoxo a isto que seria uma grande representatividade da poluição negra e parda brasileira que atinge aproximadamente 60% que está excluída dos bem materiais e simbólicos. Quem fez a charge, passa a ideia de que “espertinhos”, que na maioria das vezes são contra a qualquer instrumento de inclusão étnico-racial no país, como as cotas, passam a se utilizar de tal medida pra se beneficiar dizendo, provando que são filhos descendentes de afro-brasileiros ou se “queimando” na praia pra se passar por um possível beneficiado de tal medida. Aqui, no entanto, o autor da charge, deixa escapar uma falha de seus argumentos de que não é possível identificar quem é negro, mas quando o branco fica queimado pra se beneficiar das cotas surge a falha no argumento: fica claro que realmente existe negro ou que é factível a possível identificação de tal grupo social, evidenciado pelos conflitos que as oligarquias brancas conservadoras protegem, como seus nacos de prestigios, status, poder, privilégios e condições materiais de existência.